Onde Estamos?

Estamos no Fim do Mundo, quase fora do mapa, no limiar do esquecimento e abandono. Montes Altos situa-se na freguesia de Santana de Cambas, concelho de Mértola, distando três Km da Mina de São Domingos e outros três da Ribeira do Chança (que assinala a fronteira com terras de Espanha).

Encerradas as minas de São Domingos, em finais dos anos sessenta, criou se das povoações desta região um excedente de mão-de-obra que se viu na contingência de emigrar para outros pontos do país e do estrangeiro, por forma a assegurar a sobrevivência.

O rápido despovoamento passou a ser uma realidade que rapidamente consubstanciou uma acentuada desertificação populacional, da qual emergiu um quadro de cataclismo, desolação e abandono. O desabar de toda uma região passou a anunciar-se nos pormenores mais ínfimos.

Os artefactos mineiros degradaram-se num ritmo vertiginoso, configurando uma sucessão de ruínas. Povoações como a Achada do Gamo, Telheiro ou Moitinha, outrora cheias de pessoal, extinguiram-se pura e simplesmente, desaparecendo do mapa, quais resíduos de memória bem ali à vista de todos, quais profetas da desgraça, desenhando em jeito de antecipação o futuro obscuro da região.

Depois de tanto barulho, esforço e de um movimento recôndito nas entranhas da terra, sobrou o silêncio, o inquietante silêncio, perfilando o abandono. Estávamos na longa treva pós-mineira. Um cenário de incómodo, de quase morte, roçando esse limiar de irreversibilidade.

Mas os filhos de Montes Altos que não esqueceram a sua terra e iniciaram a luta contra o esquecimento, contra o destino. Depois do avassalador cataclismo em que as entranhas da terra parecem ter-se aberto e engolido todas as vidas e todas as esperanças, uma espécie de resíduo de todo este conturbado processo de morte e paragem reinventou a vida e desenterrou as sementes de sonho há muito caladas no sufoco da longa treva pós-mineira.

Actualmente Montes Altos tem um novo rosto, numa povoação onde se erguem mais de 70 habitações, onde muitos naturais persistem na recuperação das suas casas, onde o regresso, mais do que um projecto, é já uma realidade. Um novo olhar sobre o Chança, sobre as terras de Castela e sobre as povoações vizinhas, em ruínas, excluídas do sopro do Destino. Estamos aqui.