Largo Poço Giraldo

Poço Giraldo

Avista-se o Poço Giraldo do Centro Social de Montes Altos. É esse poço que medeia o caminho entre o Monte e o antigo Monte Giraldo, hoje em ruínas. O poço está metido na terra onde não é possível descrever o Alentejo, só vivê-lo; onde não é possível transmitir o abraço do vento suão e do calor do verão, só senti-lo, onde não é possível pintar a dor da terra gretada a gritar por água.

Nesta terra de seca, a água é uma benção…e Montes Altos foi abençoada. Circundam-na sete poços e duas fontes. Cada um com a sua história, cada um com o seu nome a lembrar a memória: Poço do Romana, Poço Antigo, Poço da Pia, Pocinho, Poço da Arco, Poço Novo, Poço Giraldo, Fonte Velha e Fonte Umbria.

Um dos largos de Montes Altos presta homenagem a um dos poços: Largo do Poço Giraldo. Esta foi a forma deste povo agradecer a dádiva da água e simultaneamente lembrar a origem das suas gentes – vindas do Monte Giraldo.

Conta a História, ou as outras histórias, que Montes Altos (ou Monte dos Mouros, como outrora lhe chamavam as gentes mais velhas) se formou a partir de uma antiga povoação situada a menos de um quilómetro – o Monte Giraldo. O primeiro teria sido habitado, na sua origem, por mouros, que eram trazidos para trabalhar nas terras dos lavradores. A Monografia de Montes Altos, de Diogo Sotero, refere o seguinte: “Não se dispondo de qualquer documento histórico que nos permita afirmar que houve escravos em Montes Altos, existem contudo bastantes documentos que provam a vinda de escravos para a nossa região.” Segundo a memória dos mais antigos, os seus pais contaram-lhes, que lhes tinham contado os avós, que os mouros habitavam o monte onde hoje é Montes Altos. Com a abolição da escravatura, em 1773, o monte ficou deserto. Mais tarde, talvez devido a uma epidemia no Monte Giraldo, a população partiu em debandada e fixou-se no antigo Monte dos Mouros, hoje Montes Altos. Sobre este assunto pode ler-se na obra atrás citada: “Quanto à transferência da população de Monte Giraldo para Montes Altos também existem elementos credíveis tais como o registo de pequenas propriedades rústicas (cercas) no local (…) Certidões de nascimento e elementos recolhidos no arquivo da Junta de Freguesia, assim como os testemunhos dos idosos levam-nos a crer que a povoação de Montes Altos é bem antigo (…) havendo indícios de povoamento que remonta o ano de 1700”.

Por este rio acima

Não se passa por Montes Altos, vai-se a Montes Altos. Montes Altos é, no limite, o sítio da opção do trajecto, pois não pertence ao circuito das actuais circulações. Mas nem sempre assim foi. Outrora Montes Altos situava-se nas linhas de acessibilidade da fronteira com a Espanha e com o rio ali tão perto, que tornava perto o sul e o mar.

E nessa circulação marítima tudo se trazia e tudo se levava!!

Pelo rio acima chegavam os negros/escravos, vindos de Vila Real de Sto. António. Refere sobre este assunto António Sotero: “ …ao lavradores tinham às suas ordens manadas de escravos que desde a sua infância se destinavam a ser pastores (…) porque a densidade populacional era lá baixa e porque era curta a distância aos portos de chegada dessas manadas negreiras, no Algarve”.

E assim se completa a história da água e das “águas passadas”.

Em resumo, o Poço Giraldo é a encruzilha da vida das gentes de Montes Altos onde se cruza a água como dádiva e a água com a sua história.