Azinheira da Pedra

O cheiro dos primeiros frios estava no ar e com eles ficava enfeitada de boletas*, belas e gradas, a Azinheira da Pedra – parecia uma grande árvore de natal, enfeitada de bolas, que enfeitava de brilho os olhos da moçatada**.

Esta azinheira, conhecida como Azinheira da Pedra, pois tinha uma enorme pedra a descansar sobre o seu tronco, ficava em terrenos particulares que ladeavam a povoação de Montes Altos. A miudagem corria para ela, nas “horas mortas”, de calcanhares a bater no cú e com a alegria sufocada, não fosse o guarda acordar, mesmo na hora da folga e “dar parte à Guarda”! Era o desafio feito menino!

A bolota, era na região, fonte de alimento das gentes pobres,…mas se a “barriga não estivesse a dar horas”, era a hora da camaradagem e da disputa amigável, a hora da recordação de outras horas de fome, que salário de mineiro não deixava esquecer. A Azinheira da Pedra era a instituição subvertida, a amiga, que permitia a cumplicidade infantil, pintada de riso, entre os “filhos de um deus menor”. E a bolota, no som da quebra da casca refrescada pela luz do dia, soltava esse pestanejar de solidariedade com os pais, que resistiam ao escuro da mina, na cadência do partir do minério.

É essa bela azinheira temproa***, que temperava de alegria e sabores a rapaziada, e que no baú da memória deixou o gosto a doçura numa vida às vezes amarga, que aqueles que foram meninos em Montes Altos querem recordar.

* – Bolota
** – Grupo de rapazes
*** – A primeira a dar frutos